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qui 31 mar 2022 11:53:41 -03
Aritmética, a parte mais básica da matemática, é bem o tipo de palavra que me faz pensar sobre como os conhecimentos são escondidos atrás de cortinas e cortinas.
Tenho aprendido coisas básicas no campo da matemática que ignorei por anos. É boa a sensação de vencer barreiras antigas.
A academia está cheia de figuras policiais, que falam sobre "separar o joio do trigo". É um lugar onde seu corpo é administrado, ou pelo menos onde pensam poder administrar o seu corpo.
Mesmo assim, no fim do dia há um cansaço bom, um tipo de alívio estranho. Não é uma reclamação sobre ter sua mente explorada, mais do que isso, é sobre ter encontrado brechas, caminhos por onde escapar.
Não tenho medo, pelo menos não quero mais ter medo, da voz que busca sempre o caminho mais puro para dissidir, o caminho estrito, que não toca em nada que o sistema tenha tocado. Já não restam mais recursos pra isso.
Mais do que a minha própria problematização — que em sua maioria guardo pra mim —, é um nervo bem reacionário.
Como em muitos textos que já coloquei aqui, há sempre esta duplicidade. E acho que habitar demais a rede, ler demais, tem esse efeito. Querer ter uma visão tão crítica que qualquer conformidade te coloca em uma situação de culpa e vergonha consigo.
O nome disso é conflito de identidade, e para ter conflito de identidade é preciso, de duas uma, ter identidade ou tê-la negada.
E sabe, estou cansada disso. Já doei meu gênero para ser repartido.
Por vezes não queria falar como quem procura ser entendida. Só expressar, deixar que as formas, as imagens, sejam elas mesmas o testemunho todo. Beira da poesia.
Mas parece que se espalha cada vez mais a ela uma alergia...
As palavras se escolhem. Eu não tenho nada com isso. As minhas mãos querem dançar, a minha língua quer ficar parada, os meus olhos não querem explicar nada.
Deixo de lado todo perfeccionismo, todo desejo de ser radical ou muito diferente do abjeto supremacista sentado ao meu lado. Eu não o olho nos olhos, meu mistério é eterno, é de decifrar códigos, códigos sociais, códigos algorítmicos, códigos legados.
Continuo poesia viva, louca no seu real motivo, sem sentido, tão semântica quanto nihil, tentando descobrir o que é que significa "nós", o que é que significa "você", o que é que significa "eu", sem jamais assentir à primeira resposta.
Eu ouço vozes, aquelas que se queimaram na minha memória. Absorvo julgamentos e eles reverberam eternamente. Alguém que tem o poder pode ser em uma moldura admirável, genial, rainha. Em outra pode ser psicótica, doente, megalomaníaca.
E não é só questão de perspectiva. Não está só nos olhos de quem vê, nem no catálogo de psicopatologia.
Vou parando por aqui pois tenho muito o que entender ainda. Como sempre, obrigada, muito obrigada, pela sua visita. 🐈️