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Postado em 27.07.2022 00:00
Autor(es): Hermann Hesse
Editora: Record
Páginas: 196
Idioma: português
ISBN-13: 9788501020291
ISBN-10: 850102029X
Uma das melhores leituras do ano até agora, mas difícil de resenhar. É um [romance de formação](https://en.wikipedia.org/wiki/Bildungsroman) que narra o amadurecimento do menino Emil Sinclair.
É a trajetória de um garoto tentando tornar-se si mesmo. Isso exige o rompimento com o passado e com o "ninho" e a conciliação do "mundo luminoso" com o "mundo sombrio" (essa dualidade permeia toda a obra).
Hoje sei muito bem que nada na vida repugna tanto ao homem do que seguir pelo caminho que o conduz a si mesmo!
Todavia, só me interessam os passos que tive de dar na vida para chegar a mim mesmo. Deixo resplandecer na distância todos os pontos de repouso, ilhas encantadas e paraísos, cujo sortilégio provei e aos quais não desejo voltar.
E há muitos também que se embaraçam para sempre nesses escolhos e permanecem a vida toda agarrados a um passado sem retorno, ao sonho do paraíso perdido, o pior e o mais assassino de todos os sonhos.
Vejo que pensas mais do que podes exprimir. Mas vejo também que nunca viveste completamente aquilo que pensas, e isso não é bom. Somente as ideias que vivemos é que têm valor. Percebeste que o “mundo permitido” era apenas a metade do mundo, e trataste de ocultar a outra metade, como fazem os religiosos e os professores. Jamais o conseguirás! Ninguém o consegue, a partir do momento em que começa a pensar.
Quanto a mim, me sentia sem cuidados. Mantinha à minha maneira, tão singular quanto pouco atrativa — com bebedeira e jogo — a luta contra o mundo: era minha forma de protesto. Mas com ela me aniquilava, e ao perceber isso equacionava às vezes a questão nos seguintes termos: “Se o mundo não podia utilizar homens como eu, se não tinha para mim nenhum lugar melhor nem podia arranjar-me uma função mais alta, então não me restava outro caminho senão o aniquilamento. Pior para o mundo.”
Quando me comparava com os demais, sentia-me muitas vezes orgulhoso e satisfeito comigo mesmo, e em outras tantas deprimido e humilhado. Ora me acreditava um verdadeiro gênio, ora meio maluco. Não me era possível compartilhar a vida e as alegrias dos outros rapazes de minha idade, e às vezes reprovava asperamente o meu isolamento e sentia profunda tristeza, crendo-me definitivamente afastado deles, sentindo-me excluído da vida.
Às vezes você se considera demasiado esquisito e se reprova por seguir caminhos diversos dos da maioria. Deixe disso. Contemple o fogo, as nuvens e quando surgirem presságios e as vozes soarem em sua alma abandone-se a elas sem perguntar se isso convém ou é do gosto do senhor seu pai ou do professor ou de algum bom deus qualquer. Com isso só conseguimos perder-nos, entrar na escala burguesa e fossilizar-nos.
Não devemos temer nem julgar ilícito nada do que nossa alma deseja em nós mesmos.
Mas o que impulsionava minha evolução interior não era essa ocupação erudita, mas algo totalmente contrário. O que verdadeiramente me fazia bem era o progresso do conhecimento de mim mesmo, minha confiança crescente em meus próprios sonhos, ideias e intuições; a revelação, cada dia mais clara, do poder que em mim mesmo levava.
“Quem quiser nascer tem de destruir um mundo” — eis a mensagem — destruir no sentido de romper com o passado e as tradições já mortas, de desvincular-se do meio excessivamente cômodo e seguro da infância para a consequente dolorosa busca da própria razão de existir: ser é ousar ser.
O pouco que escrevi e esses trechos que destaquei não fazem jus à leitura da obra completa. Recomendo demais.