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ter 24 mai 2022 17:04:21 -03
"Ansiedade" quer dizer o quê? Vem de onde?
Sinto que ansiedade vem de ser apertada, comprimida, de uma forma onde sua vida diária não é sobre expressar ou processar o que estão apertando contra você, então você resolve algumas coisas, e outras permanecem comprimidas. Assim, poucas coisas são feitas, porque muito está comprimido e negligenciado.
Quando a vida é comprimida, não há tempo sequer para pensar no que sinto, quanto menos falar sobre. Algumas pessoas falam tudo o que passa pela sua cabeça, e recriminam alguém que não fala nada por se omitir. Mas isso não quer dizer que existe qualidade ou verdade no que dizem.
Ir à universidade, trabalhar na maioria dos empregos, comprime muito da nossa vida. Nossas áreas de estudo e trabalho são raramente sobre pensar, sentir, e falar sobre a experiência ou sobre como nos sentimos. É sobre os objetos do estudo e do trabalho apenas. Mas como essas coisas podem estar separadas?
No passado meus olhos eram mais críticos, hoje eles sentem uma espécie de pânico, com essa pressão por abandonar ou esconder as visões críticas para ver se assim o sistema te paga um pouco mais. Mas não funciona dessa forma.
O sistema seleciona quem é socialmente hábil e capaz de aprender rápido. Ele se apresenta como acessível, diverso, pluralista, mas é apenas uma fachada. Ele é o oposto de todas essas coisas.
Eu tenho lido menos, em especial menos notícias, mas também muitas páginas que antes acompanhava. Tenho lido muito menos em geral. Eu também parei de jogar jogos de computador, algo a que dedicava tempo quase todos os dias. Mas o espaço não se abriu, ele parece cada vez menor, e há menos prazer, menos lazer, porque em tese você está produzindo mais.
Quando será que terei algum retorno? Não sei dizer. Parece que estudo e trabalho como um investimento futuro, mas sem nenhuma segurança presente. No momento, existe só incerteza no horizonte, e isso cria mais ansiedade. A ansiedade gera exaustão, porque nunca há qualidade no tempo gasto. A exaustão cria irritação, e essa por fim gera a sensação de ser incapaz de amar.
Essa última situação é o que vai criando e aprofundando os abismos entre os seres alienados por esse sistema.
Talves "amor" seja uma palavra muito forte, carregado de significados cristãos. Mas alguma medida de afeto é mesmo perdida, e sem esse afeto as conexões ficam cheias de ruídos e a solidão vira algo endêmico, presente em todo lugar.
As igrejas fingem terem remédios para tudo isso, mas elas são só parte do esquema de justificação. Elas apresentam uma lógica onde você precisa primeiro acatar aos seus dogmas para depois ter acesso à graça dos seus deuses, mas acreditam piamente que esses deuses amam de forma irrestrita.
Porque culpam os próprios indivíduos por sua alienação, e porque excluem tantas formas de ser e existir, em especial porque investem politicamente na exclusão e estigmatização de outras formas de pensamento, as religiões não são resposta para esse mecanismo.
A resposta talvez esteja na criatividade, no tipo de fé que vai além do que já está dado e chega na criação. E um clichê especialmente aniquilador da religião é que o ser humano não pode querer criar, tem que apenas conformar-se com aquilo que foi criado e como foi determinado.
Além da criatividade, existe também a escuta. Falar é difícil, falar algo novo é ainda mais difícil. Mas sem que haja a capacidade de ouvir, também de difícil desenvolvimento, terá sido em vão falar.
A escrita e a leitura são meus refúgios, talvez por motivos como esses. Na escrita, o tempo é assíncrono. Não há pressão para falar de forma imediata, nem em escolher suas palavras de forma intuitiva, numa fração de segundo. A escuta no sentido escrito é a leitura, que pode acontecer até séculos depois, no ritmo de quem lê, e que não requer habilidade oratória nem uma ocasião social própria.
Mas não vivo esses sonhos. Apenas sonho. O que vivo é a ansiedade de não saber quanto ou quando vou conseguir me libertar do endividamento e da insegurança financeira e psicológica. O que vivo é não saber quando poderei escrever sobre minhas alegrias e do que estou experienciando na vida.
Hoje, a minha experiência é sobre resolver problemas, um após o outro, sem muito tempo para viver de verdade. A isso chamam, complacentemente, de "vida adulta"? Então "viver de verdade" é só uma sensação jovial, perdida no passado, e o resto da vida deve ser pior do que o ascetismo religioso, apenas a escravidão por débito motivada pela ilusão da mobilidade social, como uma cenoura no anzol.
Minha vontade era poder ter e dar banquetes, saúde, afeto, qualidade de vida, para mim e para as demais pessoas com quem convivo. Mas estamos, coletivamente, nos afundando em dívidas e no domínio de um sistema que usa de relógios e calendários para nos manter permanentemente sob a pressão dessa ansiedade.
Torcendo para escrever, em algum dia futuro, textos comemorando a vitória,
~ daze