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vergonha

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Tenho pesquisado bastante sobre a vergonha.

Algo que tem sempre me ocorrido ao começar a escrever é como tendo a ir sempre para um lugar de dor e desabafo, e como isso é cíclico.

Por isso comecei a evitar escrever deste lugar. Por mais que a princípio pareça legítimo, pode ser também um engodo, um engano.

Por mais que eu tenha dor para mostrar, girar em torno dela não vai transformá-la.

Mas tentar alterar isso também contêm uma armadilha. Posso acabar trocando a dor por vergonha.

Posso tornar-me evasiva quanto à dor. Posso começar a evitar a dor alheia, não querer ver a dor nunca. Quando alguém mostrar-me a dor, dizer que deve também suprimir sua dor.

Ou seja, envergonhar essa pessoa pelo que sente.

Assim sempre demonstrou pensar meu inimigo.

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A vergonha é a ideia de que há algo de errado comigo.

É uma necessidade de estar sempre controlada, contendo esse algo errado para que não apareça.

A vergonha nos faz fabricar uma imagem falsa, aparente para esconder aquilo do que temos vergonha.

Não é algo de errado como o que pode estar errado em qualquer pessoa, como uma imperfeição comum. Algo de errado no sentido patológico, pessoalizado. Algo errado nos meus sentimentos, minhas emoções, na forma como sinto.

Isso poderia ser visto como algo especial, precioso. Mas nos ensinam a ter vergonha de nossos dons e dos nossos sentimentos mais profundos e difíceis de serem resumidos ou explicados.

Sentimentos que não fazem sentido para serem entendidos, uma vez expostos, são o que são, demonstram as formas divergentes como viver é possível.

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Essa ideia pessoal, particularizada de erro está ligada à vergonha e também ao pecado e sua versão secular, a doença.

Escrever, falar sobre a dor, não necessariamente sara. O que sara é falar sobre a dor que ainda está escondida. Mas uma dor que já foi expelida, se repetida, não mais sara. Só aumenta. É uma ferida que precisa ser cuidada, já foi vista. Não é mais sobre cutucá-la.