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O melhor musicista do mundo

Era uma vez este jovem que morava em uma vila no interior e pouco sabia sobre o mundo ao seu redor. Sua vida era simples e pacata. Consistia tão somente de ajudar seus pais na lavoura; cuidar dos animais; e vender o fruto da messe familiar na feira.

Certa vez, um musicista viajante passou pela cidade e se apresentou na praça. Todos pararam para assistí-lo pois jamais haviam ouvido algo tão belo e cativante como as músicas que este viajante tocava. Suas mãos, já gastas de tanto tocar seu instrumento, tornavam aquela melodia, tão complexa e misteriosa, parecer algo fácil. Ao final de sua performance, todos o aplaudiram e o veneraram. Em particular, o nosso jovem ficou tão encantado que, naquele momento, ele havia decidido o que queria fazer da vida: ele gostaria de tocar tão bem quanto aquele homem e experimentar aquela magia, por assim dizer, com suas próprias mãos. Curioso, o jovem procurou o musicista e o disse:

"Que bela apresentação a de hoje! Como posso fazer para me tornar como você?"

Ao qual o musicista, de cabeça baixa, respondeu:

"Ainda não está bom o suficiente..."

Ele se levantou e foi embora, deixando para trás a maior parte do dinheiro que sua plateia havia lhe presenteado.

Apesar de não compreender a resposta que lhe foi dada, o jovem agarrou toda a sua animação e correu atrás do seu primeiro instrumento. Sua família não possuia o dinheiro necessário para comprar nada além do fundamental, então o jovem teve que dobrar os seus esforços para comprar seu instrumento. Em vez de levar sua vida devagar e simplória, passou a tomar as responsabilidades da fazenda da família e trabalhar mais do que tudo e todos. Em pouco tempo, conseguiu juntar o dinheiro necessário para encomendar um instrumento da cidade maior que ficava há algumas horas de distância.

Assim que comprou seu instrumento, o jovem passou a não dormir mais: passava as manhãs e as tardes cuidando da plantação e, de noite, estudava música. No começo, sem ter um direção certa, ele gastava muito mais tempo lutando contra o seu instrumento, refletindo sobre como que era possível realizar qualquer obra com aquilo, do que de fato produzindo sons. O pouco que produzia era motivo de revolta da família, pois ele claramente não havia nascido para fazer aquilo.

Com o pouco dinheiro que guardava, o jovem viajava para cidades maiores a procura de outros musicistas, buscando inspiração e guias em termos técnicos e musicais. Em suas viagens, ele viu artistas fantásticos, que faziam do impossível uma realidade. Muitos eram cobertos de arrogância e não queriam saber muito de um garoto brejeiro como ele. Outros, porém, estavam muito mais do que felizes em ajudá-lo. Assim que eles o ensinavam uma técnica nova, o rapaz retornava à sua cidade e passava horas praticando, muitas vezes sem comer ou dormir por dias. Ele estava disposto a se tornar o melhor que já existiu.

Aos poucos, sua família, que antes não o suportava, agora o assistia praticar dentro do celeiro. Seus vizinhos sempre comentavam como o crescimento musical dele era incrível e como, em tão pouco tempo, ele havia se tornado um talento nato. Ao saber desses elogios, o rapaz decidiu se apresentar em uma cidade próxima, para ver se era possível ganhar algum dinheiro com aquele esforço todo. Sua viagem não foi em vão: após sua performance, após ver que a multidão dispersa havia se transformado em uma plateia, o rapaz conseguiu juntar moedas para bancar esta e mais algumas viagens.

Contudo, o rapaz não estava satisfeito. Aos ouvidos não treinados como da plateia, suas músicas estavam de bom tamanho, mas o rapaz não conseguia esquecer dos erros que cometia enquanto tocava. Por cada cidade que passava, por mais dinheiro que recebesse ou por mais que era aplaudido, o homem só pensava em como que ele poderia ter cometido gafes tão medonhas em sua execução. Não era concebível que mais ninguém além dele estivesse vendo aquilo.

Assim, ele passou a praticar ainda mais. Agora que sua vida era pelas estradas, não precisava ter outra preocupação que não a prática. Gastou mais dinheiro em um instrumento melhor e passava agora cada vez mais horas praticando e procurando musicistas cada vez mais aptos mecanicamente para assistí-los e aprender, o mínimo que fosse, para se tornar melhor. Ele viajou pelas quatro ilhas, se apresentando; ouvindo músicas novas; e sentando para tocar seu instrumento debaixo de árvores. Há alguns que dizem que ele chegou a ir tocar no continente depois do mar. Diz-se que ele foi parar lá pois gostaria de passar um tempo em um navio, ouvindo e aprendendo com o mar. Se é verdade ou como que retornou continuam sendo especulação até os dias de hoje.

Em uma de suas viagens, o homem decidiu se apresentar nesta pequena cidade, composta de uma feira e de várias famílias de fazendeiros. Aproveitou o clima calmo da cidade e sentou-se em uma praça para praticar. Enquanto se debruçava sobre o instrumento; refletindo e batalhando contra cada nota; mastigando cada erro que cometia, não reparou que havia se formado uma plateia para si. Assim que reparou isso, parou de tocar. Toda a cidade o apladiu e ovacionou, encantados com o que haviam presenciado. Ele pegou algumas moedas no chão; guardou seu instrumento; e levatou-se para ir embora. Enquanto caminhava, sentiu alguém o puxando, era uma criança o elogiando. Ao ouvir aquilo, somente conseguiu dizer:

"Ainda não está bom o suficiente..."
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