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aviso: isso é uma tentativa de pensar sobre o que funciona. o que está escrito abaixo pode ser útil pra você, ou não. se você está lendo para se informar sobre uma outra pessoa considere falar com ela sobre o que ela própria acha.
Rotinas ou 'scripts' são estratégias de autorregulamento para pessoas neurodiversas.
Preciso muito escrever um pouco sobre as rotinas porque em geral fico perdida entre aprender a lidar com a não-linearidade e suas transições, mas ter alguma base mÃnima de organização para minha semana ou dia.
Não há uma receita, uma forma fixa e previsÃvel de viver que seja satisfatória.
E de fato, nada alivia a ansiedade e revigora como lembrar de regular nossas expectativas.
Mas sem alguma rotina eu posso me prender a algo que prenda minha concentração e esquecer de tudo. Tudo mesmo.
Se começo a fazer algum trabalho criativo, escrevendo, programando, ou tentando aprender algo novo, as horas começam a passar até eu ser lembrada pelo meu estômago de que meu corpo existe. Se tirar tempo para jogar um jogo então, esqueça!
Outro fato é que não há uma linearidade nos dias e seus humores. Há ciclos onde em um momento consigo organizar tudo e no outro apenas bagunçar.
Isso é saudável, e só causa conflito se alguma força moralista externa fica te passando julgamentos.
Essa é uma fonte comum de conflitos familiares que fazem (ainda bem) a gente se afastar das nossas famÃlias e buscar um contexto onde esses ciclos sejam naturais.
Mas não necessariamente ao sair de casa você vai encontrar liberdade disso.
No trabalho, na faculdade, em um curso, em um relacionamento, continuamos tendo responsabilidades compartilhadas — já o moralismo felizmente não precisa vir junto.
Precisamos viver através desses ciclos. Não vamos nem precisamos almejar chegar em um lugar de linearidade, onde vamos ter tranquilidade e controle sobre tudo.
Deixar tudo para última hora é algo comum. Você pode rir da sua própria procastinação ao invés de chorar. Mas e quando há alguém que depende de você?
Sem conseguir lidar com isso, a maioria dos cÃrculos sociais se forma ao redor de pequenas ditaduras onde impera a ideia de que "alguém" sabe o que é melhor para todo mundo.
Alguém pode não querer fazer algo por muitos motivos, mas mesmo assim é necessário. Como chegamos a esse lugar executivo onde os motivos já não importam e simplesmente agimos?
Uma coisa que essas pequenas ditaduras não permitem é ficar um pouco parada para deixar as ideias se assentarem e o corpo se acalmar.
Bem intencionada ou não, a pessoa que se incumbe de ditar o que é melhor para as demais costuma achar que qualquer pessoa parada em silêncio está "precisando" ser dirigida a fazer algo.
Parar tudo, sentar no chão e só respirar costuma me ajudar nisso. Eventualmente o processo onde estava vai se dissolvendo, e qualquer "motivo" ou "racionalização" ou aparece e se torna mais óbvio, ou perde força.
Sem perceber bem as coisas, assistindo, lendo, suprimindo com outros estÃmulos, não há como abrir espaço pra ação.
Por isso não tenho uma boa experiência com psicoterapia. As perguntas e a "tarefa" de respondê-las, ou a ideia de "ficar á vontade para falar qualquer coisa" não fazem nenhum sentido pra mim.
Esse espaço também é o mesmo espaço pra criar novas coisas, pensar em outras direções e não ficar fixada tentando resolver sempre o mesmo "problema".
A ideia de que você é o próprio problema e que tem que se "consertar" tem um nome: culpa.
Culpa é uma emoção totalmente inútil que aprendemos se tivermos crescido numa chamada "famÃlia cristã".
Essa famÃlia funciona segundo um modelo inalcançável e a tentativa de alcançá-lo para escapar à punição imposta por um deus todo-poderoso que aceita somente esse tipo de famÃlia.
A boa notÃcia é que você não tem nenhuma obrigação de se adequar a essa expectativa, e pode buscar outros parâmetros para se orientar.
Por isso não tento me consertar nem me comparo com as outras pessoas, sejam elas cristãs ou não. Penso, através da escrita, sobre o que está e o que não está funcionando para o meu contexto presente.