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ter abr 27 18:04:56 UTC 2021
Mudanças são eventos caóticos. O caos é algo que eu até consigo gostar, mas o estado de encaixotamento que precede um caos vivível — tudo dentro de caixas, sem possibilidade de movimentos fluidos, tudo mudando de lugar a todo momento antes de se assentar... Nem tanto.
Mas nada é pior do que viver sob constante imposição e sugestão moralista. Sei que não importa para onde for, sempre encontrarei isso. Mas se há um motivo para o movimento, um deles é o de me afastar dos espaços onde conta-se a história de uma verdade única, à qual todas as pessoas têm que acatar, e contra a qual suas palavras são meras fabricações — existe, no fundo, só aquela verdade única.
Posso pensar de forma bastante rígida se estiver sob tensão, mas acreditar que minha verdade é a única seria contraditório. Eu não tenho nem quero ter tanta certeza assim. Já me sinto alienígena onde quer que eu vá porque a verdade está sendo comprada e vendida em transações das grandes, e sempre uma verdade rígida, uma que é corrosiva com qualquer outra que nela encoste.
Ceticismo, cinismo, até esses aspectos irritantes do pensamento podem ter valor. Mas o fundamentalismo, do tipo que tenta impor uma única moralidade e então tratar o que desvia dela com um nojo reprimido, não consigo ficar muito perto.
No começo você pode até sentir que estão te aceitando. É o que nesse cristianismo moralista se chamará de um "amor universal", do tipo que você dá de graça para qualquer pessoa pra se sentir melhor por odiá-la secretamente ou precisar de algo que ela tem, mas um tipo que seria transcendental demais dar para quem peca. A pessoa santa serve aqui como uma desculpa, mas não existem seres santos. Nunca existiram seres santos. Ninguém jamais foi livre do que uma visão assim chama de "pecado".
Então conforme o tempo passa, esse amor se revela como nada mais do que manipulação. Ele diz: Eu estou amando, então você deve me obedecer. Eu te dou amor, então por que você não me dá o que eu quero em troca?
Eu não consigo tolerar isso muito bem. Gosto do conceito de "centro". Eu tento usar o que aprendo como uma forma de ajustar esse centro, e então tentar viver desse centro como uma forma de cuidar de mim e de minhas necessidades ao invés de negligenciar elas para acatar a alguma verdade absoluta, que é inacessível mas acatável.
Até o caos se forma ao redor de um centro. Dado o centro, o caos pode ser muito desordenado, mas se mantêm centrado. Ele pode dar ou perder partes, pode se mover ou ser transformado, mas a não ser que esse centro seja perdido, a não ser que ele exploda ou seque, ele segura o caos indiferentemente até que ele seja dissolvido ou misturado com o caos ainda mais expansivo que está ao redor.