Dezembro já está em seu término, assim como esse ano horrível. Seguindo
a tradição centenária, todas as atividades, prazos, demandas da qual se
acumularam durante o ano subitamente chegam ao seu ápice nas ultimas
três semanas de Dezembro e nos atolamos em meio de preparações de finais
de ano, trabalhos, projetos, escola, faculdade, etc, etc, etc.
Evidente que eu não escapei desse fato horrendo e da qual ajuda a
suplantar nossas atividades e contribuição para a esfera do mundo do
software livre.
Ademais, esse ano foi um ano da qual eu mais escrevi e estudei. Uma
velha paixão. Espero poder estudar mais material literário/ficção no
próximo ano, reler alguns clássicos que há muito tempo eu já esqueci.
Além disso, foi um ano que eu reconheci o quão danoso é a tecnologia da
forma que a gente utiliza e constrói. Percebi que eu desejo _utilizar a
tecnologia, e não o contrário_. Talvez por estar lendo mais, fica mais
evidente como eu gasto muito tempo alimentando um ciclo infinito de
atividades irrelevantes, induzidas quase como hábitos sem sentido,
caçando memes, deslizando um feed, procurando distrações rápidas e um
depósito rápido de endorfina. Tempo esse que eu poderia ler, escutar uma
música, e efetivamente estar offline.
Esse sentimento não é de agora. Quando eu perdi meu celular há uns dois
anos atrás, eu senti que eu realmente tinha mais tempo. A situação era
de que eu não tinha um celular, e apenas tinha um computador no
trabalho. Então quando acabava de trabalhar, eu subia em um ônibus,
voltava pra casa e simplesmente focava em fazer outras coisas. As vezes
imprimia alguns textos para ler em casa e assim eu gastava meu tempo.
Retomar o celular, é também lentamente desaprender a gerenciar o
micro-tédio e se entregar novamente aos des(prazeres) da vida em mar de
constante notificações de empresas e pessoas querendo um pouco de
atenção.
No meu texto "Computadores de Verdade" [1], eu comento sobre
como nem mesmo temos verdadeiro domínio dos nossos equipamentos
tecnológicos. E é partindo desse ponto, aliado também da minha
trajetória pessoal enquanto indivíduo, que eu passei a observar de uma
forma até mais radical a tecnologia em si e mergulhar cada vez mais
fundo no quase defunto movimento software livre, "retro-computing"
(computação retro), tecnologias simples, padrões, protocolos abertos,
descentralização e por aí vai.
Eu quero um mundo onde a tecnologia esteja servindo os nossos
interesses, e que ela sirva muito mais pra ajudar do que pra se
alimentar de cada micro detalhe das nossas vidas para aumentar a taxa de
lucro de alguém por aí. Acho que não é algo impossível, mas com certeza
é algo que dá trabalho nesse momento que vivemos.
--
O texto "¿Que Pasa? Dezembro, 2020" foi publicado em 26 de Dezembro de 2020.
O Conteúdo desse site é sob os termos da licença Creative Commons CC-BY-SA. O código desse site é sob os termos da licença GPL-3.0.