O Caminho da Glória

Postado em 03.03.2023 00:46

Capa

Autor(es): Alexandre Ivanovitch Kuprine

Editora: Editorial Inquérito

Páginas: 71

Idioma: português lusitano

ISBN-13: 0

ISBN-10: 0

Esse livro é uma novela da época da Rússia imperial.

É narrado em primeira pessoa por Nicolau Arkadievitch, um jovem recém formado na Escola de Agricultura. Ele vai exercer sua profissão numa cidade pequena e isolada, onde acaba se envolvendo com uma companhia local de teatro amador.

Lá se enamora de uma jovem respeitável, filha do tesoureiro, que aceitou um papel, de última hora, num sainete. Ela começa nervosa, mas logo gosta da coisa, vai bem no papel e sente vontade de seguir carreira no teatro.

A moça, Lidochka, chama Nicolau para conversar no dia seguinte. Jovem e nervoso com a situação, Nicolau não consegue manifestar seu interesse e termina apenas com a "missão" de encontrar um professor de teatro para Lidochka em Moscou.

Apesar dos meus esforços para contentar-me com o importante papel de conselheiro, minha alma lamentava-se - magoada pela ilusão perdida. Naquele período da juventude, não chegara ainda à conclusão de que o destino me condenara a eterno celibato. Parece-me até que nasci com as qualidades de solteirão. Quantas raparigas me confiaram os seus segredos! Quantas senhoras me escolhiam como seu melhor amigo! Bastava que começasse a interessar-me alguma rapariga, para que ela me desconcertasse imediatamente, dando-me um recado para um rival feliz ou fazendo-me confidente de ternas esperanças que não me interessavam. Porque se dava isto? Ignoro-o. Não sou demasiado feio, nem coxo, nem efeminado; não se pode dizer que sou desastrado. ¿[^1]Haverá, por acaso, seres desgraçados, feitos de matéria especial para solteiros? E, afinal, talvez isso não seja uma grande desgraça.

Na capital, eles se encontram com um professor que diz que dará as aulas, mas adverte que a vida no teatro não é nada fácil fora do Teatro Imperial. Ele próprio teve algum sucesso no teatro, mas afirma que *se tivesse de começar a minha vida outra vez, creia-me, preferiria ser comerciante ou operário*.

A moça decide seguir com seu sonho e Nicolau e Lidochka se separam porque Nicolau vai trabalhar em outro lugar, ainda mais isolado. Um dia, uma companhia de teatro itinerante chega nesse lugar. É um grupo bem mambembe. Os atores chegam a ficar bêbados entre os atos.

Numa conversa após a peça, fica claro que Lidochka não está vivendo uma vida fácil. Ela está angustiada nesse ponto, não sabe se volta para a casa dos pais. Sente-se envergonhada por ter saído de casa para tentar esse tipo de carreira (outras coisas são narradas nessa conversa, como ter sido abandonada por um ator após engravidar dele). Ambos se emocionam muito nesse diálogo. Ele termina com Nicolau conseguindo convencer Lidochka a voltar para casa, voltar para "a vida direita".

No dia seguinte, Lidochka se arrepende e deixa uma carta para Nicolau que diz o seguinte:

A Nicolau Arkadievitch.

Caro senhor meu: Creio que estará tão envergonhado como eu do que ontem se passou. Tudo quanto disse foi apenas a conseqüência[^1] de momentánea[^1] debilidade nervosa. Embora o senhor seja pródigo em conselhos e os ministre com agrado, prefiro a minha querida liberdade e a minha arte, à qual continuarei a dedicar-me com toda a alma, deixando de lado inúteis filosofias e importando-me pouco com as opiniões alheias.

Escrevo muito à pressa, porque está a minha espera o carro de Alferoff[^2]. Repito-lhe que, entre nós, apenas pode persistir a recordação de mútua vergonha.

Nicolau procura Lidochka e a encontra no teatro com pessoas ébrias de reputação não muito boa. Ela o ironiza por ter tentado levá-la de volta ao *caminho da virtude*. Ele se despede dela com uma *vênia trocista* e a novela acaba. É um título aparentemente irônico, ninguém está no caminho de glória nenhuma.

Apesar de me ter parecido uma história moralista, do homem indo salvar a donzela, há de se considerar a época. Também achei interessante que a moça termina a história em seu caminho original. Pode até ser que o leitor termine lamentando que Lidochka não quis voltar ao *caminho da virtude*, mas ao menos Kuprine escreveu uma personagem feminina com altivez e determinação suficientes para não se permitir "ser salva".

Foi uma leitura rápida e despretensiosa só para não ficar afastado da literatura russa enquanto termino uns calhamaços.

[^1]:Li numa edição em português lusitano de 1942. Mantive as citações com a ortografia do livro. O ponto de interrogação invertido, o trema e o "momentânea" com acento agudo estavam todas assim na edição que li.

[^2]:Alferoff era um tenente de um regimento de hussardos que flerta de forma ofensiva com Lidochka num ponto anterior da história. Considere que os hussardos na cultura popular são descritos como indisciplinados, os aventureiros do exército. Conan Doyle colocou [na boca de seu personagem brigadeiro Gérard](https://pt.wikipedia.org/wiki/Hussardo#A_imagem_hussarda) que *os hussardos de Conflans poderiam por toda uma população para correr — os homens para longe deles e as mulheres em direção a eles*.