Postado em 11.01.2022 00:00
Autor(es): Alex Castro
Editora: Bicicleta Amarela
Páginas: 288
Idioma: português
ISBN-13: 9788568696699
ISBN-10: 8568696694
O autor é um zen-budista que propõe o que chama de práticas de atenção para tentar aplacar o autocentramento, superficialidade e falta de zelo com que fazemos as coisas hoje em dia.
Não é um livro de autoajuda. Mais do que autoaprimoramento, é sugerido prestar atenção no outro como veículo de ação política, de mudança material no mundo.
Cada capítulo trata de uma prática. É tanta coisa interessante que tenho dificuldade de resumir. Vou apenas destacar alguns trechos abaixo:
De um modo ou de outro, julgamos as outras pessoas por suas ações, mas queremos ser julgadas por nossas intenções.
"Não há nada no mundo mais bem distribuído do que o bom senso", escreveu Descartes, com um toque de ironia, na primeira frase do *Discurso do método*: "Mesmo aquelas pessoas que acham que poderiam ser mais ricas, ou mais cultas, ou mais bonitas, ou mais instruídas, consideram que possuem bom senso na medida certa." Mas o que pode ser mais egocêntrico do que a própria *ideia* de bom senso, esse critério autocentrado de medição do mundo?
Afinal, apesar da irresistível força de nossas autoevidentes certezas, se nossa amiga e nós temos opiniões diferentes sobre a vida *dela*, por que a *nossa* opinião estaria automaticamente certa?
Somos péssimas juízas de nós mesmas: além de autoindulgentes, levamos excessivamente em conta nossas intenções. Já as outras pessoas têm a enorme vantagem de nos analisar somente por nossas ações.
Reconhecer o direito das outras pessoas de viverem livres da opressão de nossas opiniões invasivas também é uma maneira de agir politicamente no mundo.
Não é verdade que devemos tratar as pessoas como gostaríamos de ser tratadas. Porque a outra pessoa é uma outra pessoa. Porque ela tem outros traumas, outras necessidades. Basicamente, porque ela não sou eu. Porque eu não sou, nem nunca vou ser, nem devo ser, a medida de como as outras pessoas devem ser tratadas. Utilizar a mim mesma, minhas vontades e necessidades, como parâmetro para todas as outras pessoas é a essência do autocentramento e do egocentrismo. É o exato oposto da empatia, da atenção, do cuidado. A outra pessoa deve ser tratada não como *eu* gostaria de ser tratada, mas como ela merece, precisa, deseja ser tratada.
Considerando o curtíssimo tempo que passamos existindo e a quase eternidade que passamos não existindo, nosso estado natural é a não existência. Existir seria apenas um breve soluço, um *glitch*, um *bug*, dentro de uma perfeita, plena e eterna condição de não existir. Somos todos seres inexistentes que, por um acaso, existem. Mas não por muito tempo.
O nosso Eu apenas busca tão desesperadamente pertencer porque ele mesmo se posiciona (eu aqui, o universo ali) como uma entidade apartada da totalidade à qual pertence. Por definição, para um Eu apartado, não existe pertencimento possível: sua carência será insaciável.
[...] poucos conselhos são mais canalhas do que "seja você mesma". A maioria dos problemas do mundo veio de pessoas que estavam simplesmente "sendo elas mesmas". Mais importante do que sermos nós mesmas é sermos quem queremos ser.
Como fica claro pela quantidade de trechos que marquei, achei a leitura instigante.