Postado em 08.04.2023 15:50
Um fio lá no Twitter - que se perdeu porque apaguei todos os meus tweets - começava com esses 2 tweets de uma mesma pessoa:
**"Se eu estudar x horas por dia durante x meses eu arranjo o emprego tal?"**
Sei lá mano, se vc não for um personagem de videogame que aumenta de nível a cada tanto de xp certinho, acho que ninguém vai saber te responder isso
Eu fico de cara quando vejo essa pergunta vindo de gente com idade pra ser adulta tlgd? Já deu tempo pra vida ter dado oportunidades de vc aprender que não é assim que ela funciona carai
Eu concordo com a pessoa, mas nas *replies* fui no caminho de tentar entender o lado de quem faz a pergunta criticada.
Acho que esse tipo de pergunta aparece de uma necessidade de acreditar que exista um método num processo bastante caótico, em que não temos controle quase nenhum. No caso específico da pergunta, é o processo de arranjar um emprego, mas acho que fazemos isso com vários outros problemas.
Saber que os resultados são muito variáveis, que se depende muito de "QI[^1]" e que raramente é "justo" são pensamentos muito desconfortáveis para se manter na cabeça quando se está trocando de carreira/emprego, então se busca uma referência[^2] que diga o contrário.
Vendo por outra perspectiva: a ideologia dominante cospe meritocracia na nossa cara desde cedo. Basta "ter mérito" o suficiente para conseguir qualquer coisa. Quem faz uma pergunta dessas está só tentando obter uma métrica objetiva de quanto "mérito" vai precisar aplicar para resolver o problema "arranjar o emprego x".
Uma pessoa honesta vai te responder que não há como saber[^3].
Uma desonesta talvez tente te vender um curso ou livro te ensinando como obter conhecimento W em X dias e arranjar o emprego Y em até Z meses, sem jamais citar que é impossível garantir essas coisas.
O que escrevi acima não é uma constatação genial e acho que quem faz a pergunta também sabe dessas coisas no âmago. Meu palpite é que a pessoa até tem um certo senso de que "a banda não toca" desse jeito, mas faz a pergunta pela dissonância que existe entre o que ela vê no mundo (processos aleatórios com um monte de variáveis que ela não controla) e o que dizem para ela sobre o mundo (existe meritocracia, existe um método que te faz trocar de emprego/carreira estudando X horas/dia etc).
Acho que muitas das perguntas "idiotas" que deixam a gente pensando "o mundo não funciona assim, cara, como você ainda não entendeu isso?" são as pessoas tentando lidar com essa dissonância. E isso não acontece só com processos seletivos para empregos, acontece com vários outras questões da vida.
Eu sei que já fiz várias dessas perguntas "idiotas" e provavelmente seguirei fazendo algumas. É bem mais confortável dar o braço para alguém se você está atravessando uma avenida vendado. O problema é que em várias situações está **todo mundo vendado**.
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Que tipo de pergunta "idiota" dessas você já fez? Quais segue fazendo? Se idenfificou com alguma coisa que escrevi?
Discorda? Nunca teve esse tipo de pensamento?
[Entre em contato](/contact/) se quiser dialogar sobre, vai ser interessante ver outras perspectivas.
[^1]:Quem Indica
[^2]:O perfil que comentava a pergunta é "grande", com mais de 10000 seguidores.
[^3]:Uma frustração que a pessoa que iniciou o fio manifesta é que nessas situações sempre tem quem responda com muita certeza e precisão.